quarta-feira, 2 de junho de 2010

Untitled

Olhei em volta e já era noite. Meu primeiro impulso foi olhar o relógio, temendo que já tivesse chegado a hora. Eu sabia que não deveria ansiar por nada, criar expectativas, para não me frustrar. Talvez sua opinião não houvesse mudado, talvez fosse só uma desculpa boba pra me arrastar até ali e se divertir às custas da minha ingenuidade de crer que mudara. Os ponteiros já marcavam quinze para as nove. 4 horas haviam se passado enquanto eu apenas pensava no que aconteceria, no que havia me levado até ali. Começou a garoar. Dez para as nove. A chuva apertava, e eu já começava a ficar encharcada. Cinco pras nove. Meus cabelos, já totalmente molhados, lambiam em meu rosto por conseqüência da forte ventania que tomara conta da esquina escura, sendo o único ponto de luz uma lamparina pequena e meio apagada num poste acima de minha cabeça. Temendo um resfriado, resolvi atravessar a rua para procurar abrigo. No mesmo instante, senti um baque forte contra meu corpo, e não vi nada, tudo foi muito rápido. Um grito. Quando abri os olhos, estava deitada do outro lado da calçada, e havia alguém em cima de mim fazendo perguntas. Os pingos em meus olhos me cegavam e a ventania, ensurdecia.
Lutando contra a chuva, vi um homem normal, nem alto nem baixo, nem bonito e nem feio, mas com um brilho diferente nos olhos. Sua voz desesperada sussurrava apelos ao meu ouvido. Quando o respondi, uma calma visivelmente tomou conta do desconhecido. Olhando pra rua, vi os vestígios do que acontecera. Um carro batido no poste. Sirenes se aproximando. E só. Eu não conhecia aquele homem. Apesar disso, soube que meus planos mudavam. Não esperaria mais.